Choveu a potes na manhã cinzenta
na escura cidade do granito, ao que consta impenetrável aos terramotos e aos
voos picados das renas e do pai natal.
E as pessoas fugiram do centro,
as ruas ficaram mais escuras e viraram as costas às luzes e às festas, numa humidade
que fustiga o vento ameaçador e gelado de um Inverno que varre as calçadas
rasantes com um brilho que realça a ausência de cores e luzes de natal.
Nas traseiras da prometida
consoada, descobrimos os bairros étnicos de geografias invulgares e de crenças
pouco fervorosas, habitantes que povoam os recantos e as ladeiras da cidade
velha e que fecham as trancas dos bazares, sem companhia nem filas de cristãos
à procura de lembranças fluorescentes, e procuram evitar as armadilhas dos
buracos que se enchem de água e lama, praguejando em línguas estranhas contra
os incompreensíveis desaforos dos locais.
À procura de um refúgio seco e incólume
à adoração aos santinhos e às figuras de presépio que aguardam o nascimento do
menino.
As tabernas destilam a jargão
vernáculo, tão longe das cabanas de palhota e dos burrinhos e das vacas que
adoram o nascimento de um mito, tão próximo do casario descrente e desolado, do
bafo envelhecido dos que acreditam que a consoada é um copo de vinho tinto
entornado no balcão comprido de pedra fria da tasca obscura da calçada que se
inclina dos jardins até ao rio.
As pessoas fugiram do centro e as
ruas ficaram mais escuras.
Quando a chuva regressa com o
final de tarde, o céu de chumbo despeja impropérios e afugenta os últimos seres
normais que procuram encontrar um beiral que os albergue
Para o outro lado do jardim, para
longe da outra face da véspera de natal!
Sem comentários:
Enviar um comentário