Bruce chegou cedo a St Georges Square, o novo centro do iluminismo escocês, de forte sotaque da nova britânia porque, em Glasgow, o iluminismo não tem a ver com o significado das ideias, mas com o poder do dinheiro.
E o Ato da União de 1707 abriu o mundo das colónias britânicas, aos comerciantes de Glasgow que, depressa, tomaram conta da importação e distribuição europeia do tabaco americano.
Uma enorme riqueza acumulada debaixo do símbolo da caravela sobre a esfera armilar, um mundo que lhes pertencia e que ajudou a construir a nova centralidade de Glasgow.
Sempre que se aproximava do porto, um barco cheio de tabaco, havia um vigia, na torre do edifício dos merchants que corria a avisar a bolsa de mercadorias, porque na cidade dos comerciantes (e dos artífices) havia o hábito de anunciar no mercat cross, todas as notícias que poderiam interessar ao povo.
Numa época em que execuções eram também um apreciado entretém do povo.
Bruce, o historiador informal, o entertainer com um sentido cronológico apreciável, nunca procurou esconder que a verdadeira natureza escocesa é rufia, sardenta, olhados pelos distintos ingleses como um bando de revolucionários que era melhor não conviver com eles, para lá do norte de Inglaterra.
Até que William Scott reinventou a Escócia através da literatura, e descreveu nos seus livros a verdadeira essência da sua história e da sua personalidade aos snobs do Sul, um herói de Edimburgo que comoveu os ingleses, mas que Glasgow colocou no topo da praça de George, o rei (inglês, claro) que na praça com o seu nome nunca teve direito a estátua, por mau comportamento nas relações internacionais.
Os indómitos habitantes de Glasgow não perdoaram a George ser uma desgraça enquanto rei guerreiro e, ainda por cima, inglês.
A velhinha inglesa que nos seguia era uma fã de Walter Scott e sentia um quase orgulho da irreverência de um povo que, em 1986, colocou um pino de trânsito na cabeça da estátua do inglês Wellington, para variar um inglês bom guerreiro, mas inglês, apesar de tudo.
Passados dez mil libras de custos camarários para retirar o pino que sempre voltava à cabeça do almirante, o poder local aceitou a ideia de que o inglês passava a ter um capacete, para a eternidade.
Belicosos escoceses
Só o santo Mungo parece ser consensual porque fundou Glasgow muito antes de existir um país chamado Escócia, um humilde cristão oriundo de um reino governado pelos vikings, que construiu a primeira catedral da cidade e pregou a fé durante toda a vida, chamando os crentes para a igreja com um sino oferecido pelo Papa, um homem a quem são atribuídos quatro milagres, uma vantagem mínima, mas suficiente, para ser santo.
Mas o artista de rua que o pintou na parede que vigiava a porta principal da catedral, teve uma visão contemporânea do santo Mungo, um homem bom que se despojava dos rituais e da riqueza dos homens para interiorizar todo o sofrimento do mundo, encarnado num velho sem abrigo.
Perante a indiferença dos transeuntes, o artista abusou da sorte é escreveu na parede do parque de estacionamento "não estacionar ou amaldiçoaremos o teu carro", entre lendas, histórias de fadas e de monstros, a ameaça de maldição espelha a verdadeira alma do highlander.
Pelo menos, segundo a insuspeita opinião da velhinha inglesa que nos seguia.
Mais uma alma capturada pela visão romântica de Walter Scott!
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