Esperança é um imenso prédio
assombrado por uma serpente de ruas que não a deixa descobrir-se.
Uma entrada larga, um corredor
despojado e uma luz fria e ventosa que se atravessa no caminho, como uma espada
mágica de um ser extraterrestre de olhos grandes e expressão simpática, despejando
na diagonal o pó das claraboias do pátio central.
Esperança é o nome próprio da
casa Esperança e a primeira imagem é de um cenário ficcional pós apocalipse, um
espaço encardido, a quem faltam peças mas que mantém alguns sinais de dignidade
com tempo de verbo passado.
As janelas não batiam com o vento
porque, num amanhã do dia seguinte não é esperado vento, apenas poeiras e
calor.
A vida da Esperança está nas
histórias que ela conta.
O apelo que os espaços em bruto
exercem sobre os contadores de histórias, artistas e curadores é irresistível e
dispõe-se a múltiplas interpretações; minimalismo que afasta as distrações
sobre o não essencial, que realça os projetos ou antes uma forma de
dramatização prévia para condicionar as mensagens e nos transportar para uma pós
realidade?
E poderá a Esperança viver de
despojos, ou a Esperança transforma-os num novo começo?
Definitivamente que os tempos de
hoje são ambíguos porque todos os factos têm necessariamente, e pelo menos,
duas explicações tão coerentes em si quanto opostas entre elas.
E enquanto olhamos para a
Esperança, a casa Esperança, de diversas perspetivas não fazemos ideia, sequer,
se a História se repete ou continua (evolui, diverge ou outra trajetória não
circular)
São as histórias da casa
Esperança que a habitam e a transformam num lugar de beleza estética e de
coerência narrativa.
E a rapariga da casa, de uma
alegria contagiosa, de uma curiosidade sem pudor e de uma vontade de responder
a tudo o que nem sequer te lembraste de perguntar.
Levitava entre os cantos do pátio
interior, divagava com sentimento entre as estantes repletas de livros,
histórias, autores e portefólios e lembrava-nos que, nesta coisa da cultura, o
GPS é um instrumento inútil e fora de época.
Afinal de contas há esperança
entre os despojos de guerra, serpentes que nos enrolam, e mais de uma dezena de
histórias invulgares.
Começo a convencer-me que os
lugares despojados não pretendem condicionar o nosso futuro, mas antes tornar
mais lúcidas, as mensagens essenciais do nosso presente.
A rapariga da Esperança sorri e
acena com a cabeça em sinal de aprovação e responde-me que vale sempre a pena
voltar, mesmo hoje, que é o último dia.
Dos encontros da imagem, em Braga.
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