Entrar nas muralhas da cidade
medieval (ou que restam delas) transporta-nos definitivamente para uma outra
dimensão, o de uma urbe que resistiu intacta, por caprichos da natureza, pela
sobreposição de interesses, por condicionalismos geográficos e até por milagre.
A sua ligação ao mar através de canais, a sua
situação geográfica como confluência de rotas, terrestres, fluviais e marítimas
explica uma parte da sua ascensão medieval, como pioneira das grandes cidades
no fim do ciclo das trevas.
Uma grande tempestade entupiu o
canal, e tornou-a mais longe do mar que a rival Antuérpia, mais próxima do
abandono e mais longe das modernas influências arquitetónicas dos novos ventos
do progresso, tão perto mas tão longe do mar.
Suficientemente longe para não
ser atingida por nenhuma das destruidoras guerras do século xx o que a
transformou provavelmente numa das mais mais bem preservadas cidades medievais da
Europa.
E apesar do som dos cascos dos
cavalos na calçada polida nos remeter para os primórdios das da Era das Trevas,
num cenário de muralhas castanhas e clausura monasterial, nada mais nesta
paisagem urbana se assemelha a esta visão romântica do “Nome da Rosa” porque a altura das torres e o esplendor dos
palácios nos revela que penetrámos num reino que nasceu, viveu, morreu e
ressuscitou, exclusivamente por razões de pragmatismo comercial
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