Uma mancha de verde salpicada de pequenas cores ( tão
pequenas que conseguem esborratar o fundo de cinzento) instala-se na selva de
betão, e a desfoca como refúgio.
Tão pequenas que permitem a aproximação e derrotam a visão
do grotesco (pela diferença de tamanho).
Tão pequenas que conseguem realçar a paisagem, num quase invisível
combate entre a natureza e a civilização.
Este parque nasceu depois de anos de hesitação entre a ideia
de afundar o rio e o receio do betão sucumbir à corrente de uma pobre e
canalizada ribeira, que um dia se poderia rebelar.
Mas nasceu, e hoje é uma afronta à onda de prédios que foi
descendo a encosta, ano após ano.
Ou como uma trincheira do grande parque de Monsanto.
O que uma pobre e canalizada ribeira pode causar. Pobre, mas
honesta e heroica.
Ou talvez apenas uma técnica justificação para que se
assegurassem vistas largas e ar puro ao futuro aposentado senhor presidente que
por aqui sempre habitou?
Que sorte viver em Miraflores!
Mire (um dia) as flores, senhor presidente, enquanto as
flores nascem no jardim!
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