Madrid
Madrid Real
Real Madrid!
É um dia de clássicos na capital
mais alta da Europa.
Na Real Rainha Sofia desfila, e até
Agosto, a vida do grande e alucinado Dali em onze capítulos, em onze salas,
desde a infância artística até às tentativas de projetar a arte em quatro
dimensões, as reflexões do átomo e, em flashback, as aventuras cinematográficas
e publicitárias da sua expedição americana, a premunição da guerra como um
monstro que é o ser humano, que se estrangula numa imagem épica, a descoberta
do surrealismo, “ o surrealismo sou eu”, e és mesmo porque olhamos para ti e
para as tuas obras e entramos numa dimensão diferente, não é humana nem
celestial, é uma espécie de estágio pós vida, imerso em paisagens profundas e
tridimensionais de um mundo que só existe nos sonhos de inquietude e temor e nas
imagens da infância, remetidas ao início de século!
É por isso um Universo Dali!
Tão magnífico que, depois do contacto com o universo do "surrealismo sou eu", a visão da cidade só podia ser diferente, alternativa e, em espaços, desconcertante.
Em Lavapiés, respiram- se as questões
de uma cidade e de um país que vive nas extremidades da Europa remediada, mas
também o regresso aos ambientes e à moda vintage, os cafés de pendor literário,
a feira de desenho independente e design em La Boca de piercing nas
extremidades das artistas alternativas e de uma indiscutível beleza latina, a
caminho da Calle dos Embajadores, onde palcos improvisados promovem o
entrosamento das civilizações em bailes de escola e a comunhão do flamenco e da
dança do ventre, sem que se entenda se nasceu (ou não) uma nova raça indígena e
mestiça.
Regressados ao tempo das fronteiras dos reinos
católicos e sultanatos árabes na grande Península Ibérica.
A caminho do Rastro, o mercado de
todas as pulgas, no bairro da Latina.
E ala Madrid porque é Domingo e
mesmo fora de estação e degustando presunto ibérico com vista para o relvado do
Barnabéu, a romaria de adeptos não cessa de rodear o estádio, è espera de mais
um clássico de velhas glórias.
Não há tradição que resista a
esta movida latina que deixa o bairro de Salamanca descansar no fim-de-semana, lojas
de marca e de luxo inatingível sempre abertas em ruas desertas, mas entope os
estradões do Retiro com uma inundação de barcos a remos, artistas de rua
(parque) e versões latinas do rato Mickey que dão um colorido berrante e
anglo-saxónico a esta parada de estrelas que são os madrilenos.
E enquanto as nuvens ameaçam
novamente o passeio de barco da cidade inteira, a rapariga da máquina
fotográfica, revela-nos um retrato clássico de Doisneau, não fosse ele francês
e ela (presumivelmente) espanhola.
Este foi decididamente um dia de
novos clássicos em Madrid!