Vinte e três de Setembro de dois mil e dezasseis.
Por lapso, ia recuando aos anos mil e novecentos.
Afinal de contas, todos temos as nossas dificuldades
em absorver as modernidades.
As minhas recordações do Bairro Alto transportam-me para
décadas em que a boémia era muito nossa, porventura pouco vanguardista,
esporadicamente internacional, vivida de toalhas de quadrados vermelhos e
brancos, pequenos copos de pé, pipas de vinho tinto não certificado e charros
fortuitos nas esquinas sujas de um bairro popular.
Por lapso, não.
Porque na noite do bairro das artes as referências são
ambíguas
Talvez porque, neste dia, a voz é dos artistas e eles
contam as suas histórias em tons baços, como se a intemporalidade cobrisse a
sétima colina de um manto de nevoeiro bom, daquele que realça apenas os protagonistas
e simplifica os cenários.
O Tiago que se confunde com os paradoxos de quem
visita e habita na cidade, perguntando-se em voz alta na sala do lado, até que
ponto a autenticidade de um lugar que se habita pode sobreviver aos milhares de
visitantes que a procuram (a ela autenticidade) inspirar em cada calçada, em
cada praça, em cada pregão?
O Frederico que se perde na natureza (da margem) para
iniciar uma viagem coletiva ao mundo selvagem da sexualidade afirmativa
A Inês
A Isabel
A Sofia
E em todos os lugares de exposição há um quase
revivalismo resistente, nos palácios pombalinos do bairro de sétima colina,
edifícios gastos pelo tempo, mas altivos de um orgulho decadente, aquele cheiro
a boémia pobre e desleixada que percorre os corredores e que nos ilumina o
passado em que ninguém duvidava da autenticidade, e não havia hotéis de charme.
Carpe Diem, sétima colina, e não te esqueças de
respirar!