Demonstração de Poder – Prestígio e Símbolos
O poder seduz, em qualquer lugar, em todo o mundo.
Os líderes mundiais, mas também as pessoas comuns, seduzem outros,
procurando convencê-los que o poder lhes pertence, por direito.
Em todas as culturas, fantásticos símbolos de estatuto, muitos deles
sagrados, representam um papel preponderante na demonstração de poder.
E se o poder é ameaçado, estes símbolos de estatuto são os primeiros a
ser destruídos, violados e pilhados.
1.
O rei Leão e o Suíço voador – cerca de 1900,
Hans Christoffel, comandante da armada holandesa na Indonésia
Os Holandeses tentavam controlar Sumatra desde o século 17, de forma a
garantir a segurança dos navios mercantes, que navegavam nas proximidades do
Estreito de Malaca.
O Sultanato de Aceh, durante séculos um Estado mercantilista
independente, lutou de forma violenta contra a ocupação holandesa e as
conversões forçadas ao cristianismo.
Em 1873, os holandeses puseram em prática uma nova estratégia,
recrutando soldados indígenas e, em 1900, Christoffel foi encarregue de
comandar esta unidade.
Ele conduziu uma caça ao aliado do chefe Aceh, Sisingamangaraja XII,
conhecido pelos holandeses como o 12º Grande Rei Leão, e esta ousada ação
valeu-lhe o título de suíço voador.
Na época, era bastante vulgar os soldados colecionarem armas como
troféus. Mas Christoffel guardou-os também por interesse científico.
2.
Meios de poder
O poder político vive de mãos dadas com o controlo das redes de
comércio e com a exploração dos recursos naturais. Os líderes têm
frequentemente acesso exclusivo a produtos raros, exóticos e luxuosos e
utilizam-nos como demonstração, reforço e justificação do seu poder.
Arquitetura, estátuas, retratos, arte, decoração do corpo, podem (e são) usados
para realçar visualmente o poder (ostentação).
Não é apenas o seu valor ou esplendor que transforma um objeto num
instrumento de poder. O seu significado pode ser ainda mais importante. Poder
está ligado a História, tradições, poderes secretos e rituais. Tudo isto é
refletido em objetos, por vezes protegidos ou mostrados de uma forma
particular, ou ostensivamente escondidos da vista da maioria. Ocultar um objeto
não significa sempre que se pretende protege-lo contra roubo ou o contato. Por
vezes tem como objetivo proteger as pessoas do poder do objeto.
3.
Antuérpia sob domínio Espanhol
No século XVI os Países Baixos foram governados pela coroa Espanhola
dos Habsburgo e as alterações políticas e religiosas abanaram a sociedade nas
suas fundações.
A sua localização estratégica e a rede de comércio internacional
proporcionou a Antuérpia um papel crucial neste período turbulento, A cidade
foi alternadamente um bastião da monarquia católica e dos protestantes rebeldes
que se opunham à autoridade central.
A imagem de ambos os grupos no poder dependia do clima político e
social do momento. A exposição mostra como estes se auto retratavam em
Antuérpia, nos períodos de autoridade católica- romana e durante a república
calvinista. (1577-1585)
Tendo como enquadramento o seu tumultuoso
passado, o edifício da camara municipal transformou-se num ícone das liberdades
locais e da posição determinante que Antuérpia ocupou no comércio internacional
até 1585.
4.
O poder na cultura japonesa
De acordo com a tradição, o primeiro imperador japonês descende da
deusa do sol Amaterasu – uma ancestralidade que legitimou o poder imperial
durante séculos.
Apesar disso, o poder administrativo este nas mãos do samurai, durante
longo período de tempo. Inicialmente estes eram os guardiões da ordem e da
segurança, mas gradualmente, e com a aprovação dos imperadores, a sua
autoridade política foi crescendo.
Para justificar o seu poder também perante o povo, os samurais
rescreveram partes da História. Espadas, armaduras e outras armas ricamente trabalhadas
mantiveram-se como uma demonstração de séculos de poder.
Em 1868, the Meiji Restoration, reestabeleceu o poder imperial e até
ao final da segunda guerra mundial, o Japão desenvolveu uma extensa política de
colonização. Apenas depois da guerra, o imperador foi forçado a renunciar ao
seu estatuto divino.
Hierarquia é um tema constante da história do Japão – na cultura
medieval, durante os períodos de poder militar e, atualmente, nas grandes
companhias. Daí o forte enfase nas relações entre “alto” e “baixo” na educação
das crianças.
5.
Prestígio e liderança africana – Antuérpia nos
finais do século 19 como entreposto de arte centro-africana
No final do século 19, o porto de Antuérpia era um entreposto
comercial de receção de marfim e borracha, oriundas da colónia belga.
Gradualmente, com o desenvolvimento deste tipo de comércio, a arte e os utensílios
também começaram a ser enviados para Antuérpia, que incluíam algumas das obras
de arte aqui expostas.
A maior parte desta herança africana foi produzida na segunda metade
do século 19 e princípios do século 20. Neste período, muitas armas, símbolos
de hierarquia e figuras de poder foram trazidas para a Europa. Estas eram
compradas ou trocadas por comerciantes, confiscadas durante campanhas militares
e adquiridas por missões religiosas.
Estas obras de arte eram originalmente concebidas em honra e glória
dos chefes locais. Como símbolos de poder, eles legitimavam a liderança. Frequentemente
também exerciam uma função protetora.
Algumas destas obras nunca tiveram o objetivo de ser mostradas em
público, como são atualmente. Instrumentos de rituais, estas destinavam-se
apenas a olhos de iniciados.
6.
Relíquias Polinésias – Antepassados e poder na
Polinésia
George Tamihana Nuku é um artista Maori das tribos Ngati Kahungunu e
Ngati Tuwharetoa. Ele também é descendente de escoceses e alemães. Trabalha e
vive na Europa e Nova Zelândia. Nuku faz esculturas na tradição Maori, mas faz
uso de materiais modernos. Esta instalação é baseada numa casa de encontros
Maori, local que estabelece a ligação entre o povo e os seus antepassados.
Os laços culturais entre polinésios são baseados nos antepassados
comuns. As ilhas do oceano Pacifico foram estabelecidas após uma série de
processos migratórios oriundos da Ásia.
Acreditavam que o poder era fundado na descendência divina e, depois
da sua morte, transformavam-se em venerados antepassados. Especialistas em
rituais – mediadores entre os deuses e a comunidade – descendem dos mesmos clãs
nobres, como chefes e líderes. Eles guardavam objetos ancestrais e santuários,
procurando proteção e bem-estar, através de oferendas e rituais.
Mana é poder divino. Como guerreiros e líderes, os artistas também
possuem mana, que se manifesta através das suas criações. Este poder divino é tabu,
e pode ser perigoso se não for mantido dentro de fronteiras específicas, como
por exemplo, santuários.
Os objetos incrementam mana ao longo do tempo, através de tradições e
da sua generalização. Estes são os portadores do conhecimento ancestral e da
sabedoria dos anteriores donos.
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