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sábado, 16 de março de 2024
Vodka com sabor a mel
sábado, 9 de março de 2024
Onde mora a alma velha?
sexta-feira, 8 de março de 2024
Sem censura
No CSW, localizado no topo norte do parque Liezensky,
respira se uma atmosfera reciclada, a reconstrução detalhada de ambientes
passados com cheiros de tinta nova, como se o tempo não tivesse passado por
aqui, afinal de contas é sempre mais reconfortante acreditar nos bons genes da
arquitetura clássica que admitir que em Varsóvia, não ficou pedra sobre pedra
das memórias da monarquia polaca.
Mas no U- jazdowski, o tempo e a arte são contemporâneos,
um momento em que a europa central se liberta das grilhetas do construtivismo,
as formas são minimalistas, os cacifos são de moeda a fingir, o bar serve sumos
saudáveis e tartes vegetarianas, e até os vigilantes de sala parecem humanos,
como que hipnotizados pela legião de crianças que se atrevem a contestar a
interpretação dos mestres, diante das obras do inconformismo dos artistas que,
nos anos oitenta do seculo passado iniciaram a nova revolução, ao lado dos
sindicatos de Gdansk e da igreja católica de todo o país.
Nie ocenzurowano – polish independent art of the 1980s é,
de acordo com o catálogo, uma exposição
que mostra um panorama alargado do fenómeno artístico através do qual os
artistas se manifestaram de diversas formas a sua oposição e independência do
regime comunista da República popular da Polônia e do seu aparato opressivo
como forma de aniquilar as aspirações públicas de liberdade.
Daí a atmosfera nova Polónia que se aloja dentro das
paredes do passado, um local onde a arte decide por ela mesmo o que quer ser e
como quer parecer
Na Polónia todos os lugares têm um significado cronológico,
antes de serem o que são. A Polônia monarquia de Cracóvia até 1549, a Polónia
da nova capital monárquica em Varsóvia ao longo da rota real nas margens do
Vístula, o primeiro desaparecimento enquanto país a partir de 1759 quando as
alianças a norte não foram suficientes para resistir às alianças que, a partir
daí, rasgariam incessantemente o pais de leste a oeste, a democracia incipiente de 1918, minada pela incompetência
estratégica travestida de laivos de nacionalismos e de ingenuidade dos novos
intelectuais, cuja essência sempre viveu no exílio, o retorno ao inferno da
extinção em 1939 e os mais de 40 anos de obscurantismo dialético até que, em
1990, a europa central evaporou o leste, num sopro vindo de oeste.
Mas, por aqui, nos corredores deste espaço percorremos um
dos raros momentos em que a história não se enquadra em nenhum significado
cronológico preciso, um dos raros momentos em que a disrupção criativa se
sobrepôs ao pensamento dominante e desafiou o futuro.
E a ideia, tal como o guião, não podiam ser mais sedutores:
desobediência, clandestinidade, diálogo com o publico, militância, reflexão da
nossa condição espiritual, consciência politica e, sem cedências, a liberdade.
Afinal de contas um filme revolucionário rodado nos anos oitenta do século
passado, num espaço e num tempo em que as causas revolucionárias tinham sido
extintas pela falta de memória dos infernos e pela perceção coletiva de um
futuro de redenção e bem estar sem limites.
Talvez no incompleto espaço chamado Europa mas não no
território dos novos europeus.
Na Polónia que aspirava de novo a ser um estado da Europa
central e que queria rejeitar os ventos de leste dos descendentes dos velhos
mongóis, e a nova revolução proclamava se em
pequenos espaços, através da produção de miniaturas da obras originais,
escondidas em malas de cartão, expostas em pequenos espaços, de casa em casa,
como uma nova afirmação do domínio da individualidade sobre o que, outrora,
parecia ser o destino dos povos, a revolução construída para as massas, baseada
no pensamento único.
Mas porque as revoluções não sobrevivem ao sussurro, e a
liberdade criativa não pode ser reduzida a amostras nem encarcerada, logo os
novos portadores da boa nova, ou da nova ordem espalharam as suas obras pela
paredes dos claustros das igrejas, numa improvável aliança entre a igreja
católica, o espírito libertário e o pensamento revolucionário, uma
impossibilidade apenas possível na Polónia, que a história confirma que não é
circunstancial, porque a tolerância e provavelmente a única forma de garantir a
unidade de um povo que teima em querer existir.
Aliás uma tradição de séculos, que o diga Copérnico, quando
no século catorze proclamou, em Cracóvia, a submissão da terra ao sol, e foi
objeto da admiração geral, sorte diferente de Galileu, nascido no berço da
igreja católica.
E na exposição dos novos artistas, proliferam as
referencias simbológicas ao marxismo decadente em obras de protesto como a
instalação de a “revolução somos nós “ou a pintura “dificuldade em respirar”, o
realismo de uma contemporânea ambição de independência em “polacos construindo
a sua bandeira nacional” e a persistente reflexão sobre a sua condição
espiritual inspirada na iconografia cristã em
“o sinal da cruz” .
Sem surpresa, uma síntese da forma como se tem construído a
nova Polónia, numa afirmação de uma entidade própria, nem sempre percebida
pelos europeus do ocidente, por alguma razão, a Europa central não é leste nem
oeste, mas quem disse que na Europa deve prevalecer o pensamento único, ou não
deverá a diversidade ser a nossa forma de afirmação no mundo?
sábado, 2 de março de 2024
WAY TO INDOCHINA #19 - Last train to (from?) Indochina